Oi, meninas!
Tudo bem?
Hoje trago uma dica de lembrancinha pra vocês. Eu e Pablo, até então, tínhamos escolhido deliciosos brownies para dar aos convidados do nosso casamento. Só que poucas semanas antes, meu pai nos visitou e mostrou a surpresa que ele havia preparado: ele escreveu um cordel contando a nossa história de amor para presentearmos nossos convidados no dia mais especial de nossas vidas!!!
E eu trouxe tudinho pra vocês 😀
O cordel surgiu na Europa, na época do Renascimento. Muita gente não sabia ler nem escrever, então, em dia de feira, os trovadores visitavam esses lugares pra contar histórias contidas no cordel – essa literatura tem esse nome porque geralmente os livretos ficavam pendurados em cordas 😉
No Brasil, o cordel começou a se popularizar na segunda metade do século XIX. Até hoje aborda temas do cotidiano, como fatos históricos, curiosos, temas religiosos, lendas, comédia etc. Sempre ouvi falar, também, que o cordel serviu como meio de alfabetização dos mais antigos.
Aula de história à parte, vamos ao nosso cordel! O meu pai é cordelista e, como já falei, escreveu pra gente de surpresa. Na capa, ele usou uma foto do nosso pré-casamento. Ele imprimiu 1.000 exemplares em quatro cores. Claro que essa não era a quantidade dos nossos convidados. Ele fez pra sobrar mesmo.
Ah! E o narrador da história é nosso cachorrinho Fortunato!!!
LITERATURA DE CORDEL
História do casamento de
Pablo e Bianca
Autor: Fortunato
Caro leitor, vou contar
Uma história de amor
Porém antes de conta-la
Eu esclareço ao senhor:
Não sou um autor cachorro
E sim um cachorro autor.
O meu nome é Fortunato
Não sou cachorro de raça
Sou cachorro vira-lata
“Boi do lixo” e não de caça
Mas os meus pais sempre dizem
Que sou um cão boa praça
Meus pais são Pablo e Bianca
Cuja história contarei
Ter uns pais como eles dois
Foi tudo que desejei
Pois dão-me amor desde quando
Na casa deles cheguei
Na minha vida de cão
De nada faço queixume:
Quando chega sábado, pai
Me dá banho, bota perfume
Tem até amigo dele
Que de mim sente ciúme!
Sou cachorro vira-lata
Sem frescurinha e besteira
Porém a minha comida
É só ração de primeira
Sou o vigia da casa
Vivo livre, sem coleira.
Eu na casa dos meus pais
De fato sou bem mimado
Me dano, rasgo o sofá
Meu dente fica afiado
Meus pais não brigam comigo
Inda sou mais chaleirado.
Quando vô vem visitar-nos
Muito alegre é esse dia
Brinco de bola com ele
E em sinal de alegria
Eu também balanço o rabo
Pra minha vó Abadia.
Mas agora eu vou deixar
A minha história de lado
Pra falar sobre meus pais
Um casal apaixonado
Vou contar para vocês
Como tudo foi passado.
Os meus pais são estudantes
Fazem Comunicação
Antes do fim do ano
Chegarão à conclusão
Do curso de Jornalismo
Com esforço e dedicação.
No ano 2010
O casal se conheceu
Amor à primeira vista
Foi o que aconteceu
A luz do amor nos seus olhos
De repente se acendeu.
Pensou Pablo: – Essa menina
Eu vou ter de conquistá-la
Se o pai dela for valente
Aí o mundo se abala
Se não quiser o namoro,
Eu cubro o velho de bala!
Bianca disse: – Esse enche
Meu caminhão de areia
Espero que a mãe dele
Não me faça cara feia
Se não me quiser por nora
Eu cubro a velha na peia!
O amor uniu os dois
Que foram juntos morar
Ficaram Pablo e Bianca
Um o outro a completar
Bianca varrendo a casa
E o Pablito a cozinhar.
Quando foi um certo dia
Pablo pegou a pensar:
– De falar com o pai dela
Não vou poder escapar
Melhor arranjar coragem
De logo a fera enfrentar.
Aí Pablo disse: – Flor,
Ideia de mim não sai:
Pra gente ter um encontro
Ligue aí para o seu pai
Pois esse nosso casório
Agora vai ou não vai.
Bianca ligou pro pai
Mas o pai não botou fé
Porque o rapaz cantava
Na “Varal de Cabaré”
Bianca disse: – Pergunte
A Cloves quem ele é.
Cloves disse: – Primo Dui
O Pablito é bom rapaz
Ele aqui é um cantor
Em Campina de cartaz
‘té saiu na Rede Globo
Por ser um cantor capaz.
Marcaram então um encontro
Lá na rua das Boninas
Num restaurante comeram
Uma comida granfina
Pablo disse: – Dantas, quero
Casar com sua menina.
O pai de Bianca disse:
– Por mim não tem nhém nhém nhém
Desde que você a ame
Dê-lhe amor e a trate bem
Senão eu como seu fígado
Misturado com xerém!
– Sou de família valente
Sou das brenhas do Sertão
Meu avô foi cangaceiro
Do bando de Lampião
Meu pai, dos irmãos o mole,
Pegava onça de mão.
– Por isso tenham cuidado
Cuide bem dessa menina!
Nisso, na perna de Pablo
Descia já a urina
Quando o cantor quis falar,
A voz que saiu foi fina.
– Dela você cuide bem
Porque ela é meu xodó
E já que vocês se gostam
Não fiquem pro caritó
Pablo disse: – Fique certo
Que eu amo a Jubiló!
Bianca também se deu
Com a sogra muito bem
O amor que a mãe tem ao filho
A Bianca também tem
A Pablo amor dá Bianca
E amor a Bá dá também.
Para o casório dos dois
O pai deu consentimento
De casar-se no São João
Deles era o pensamento
E então no Parque do Povo
Lá foi feito o casamento.
Meu avô mandou fazer
Camisas especiais
Com a foto deles dois
Na frente, em belo cartaz
Como lembrança da festa
E com minha foto atrás.
Juntaram as duas famílias
Fizeram grande festança
Pra comemorar chamaram
Amigos de confiança.
Cada qual, Pablo e Bianca,
Se sentindo uma criança.
Casaram! Sejam felizes
Ficamos a desejar!
Vamos pedir a Jesus
Para os dois abençoar
Pra vir logo um irmãozinho
Que é pra comigo brincar!
Amor feito de sorrisos
Amor real fantasia
Amor belo, de cinema
Amor de música e poesia
Amor de Pablo e Bianca
Amor que nos contagia!
Janduhi Dantas
Aqui pelo Nordeste, as noivas já têm pensado no cordel como lembrancinha, porque além de não ser comestível, “que acaba logo”, é diferente e divertido 😀
Nós do Casando sem Grana já recebemos até e-mails pedindo algum tutorial nesse tipo! Mas, nesse sentido, é bem difícil, porque nem todo mundo sabe rimar, né? A dica que dou, se você se interessou, é procurar um cordelista que faça por encomenda. Infelizmente meu pai não faz nem conhece ninguém que faça. Quis mesmo trazer a dica pra vocês e ir contando, aos pouquinhos, como foi meu casamento.
E aí, gostaram?
Beijos!